A Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) lançou seu novo site institucional, reunindo 56 materiais produzidos ao longo dos 12 anos de atuação da organização. Este é o maior acervo digital sobre as comunidades quilombolas do estado, tornando-se uma ferramenta essencial para a preservação, divulgação e valorização da cultura quilombola.
Com cartilhas, mapas, documentos disponíveis para download gratuito e fácil navegação, o site democratiza o acesso ao conhecimento, beneficiando comunidades quilombolas, estudantes, pesquisadores e o público em geral. Acesse aqui o site.
A iniciativa busca fortalecer a luta por direitos e promover a valorização cultural, conectando a memória coletiva das comunidades à sociedade, como explica o coordenador da COEQTO, Jorlando Ferreira Rocha, quilombola da comunidade Ilha de São Vicente.
"É muito importante termos ferramentas como o site. Ele é um portal que amplifica a voz das comunidades quilombolas sem que dependamos exclusivamente da mídia externa. Com nossos próprios canais, podemos controlar o que é publicado, garantindo que as informações reflitam nossa realidade. Além disso, o novo formato do site, que inclui cartografias e outros recursos, tem sido um instrumento valioso na incidência política. Ele nos ajuda a acessar políticas públicas, cobrar respostas dos órgãos competentes e divulgar de forma transparente o que estamos fazendo e produzindo", pontua.
Graziele Silva Souza, estudante do nono ano do ensino fundamental e moradora da comunidade Carrapiché, destaca a importância do acervo para o aprendizado escolar e a valorização das próprias raízes."Ter esse acervo de materiais da nossa comunidade facilita muito, porque não precisamos transportar documentos ou objetos para outros lugares, e tudo fica mais acessível. É incrível poder aprender sobre a cultura de outras comunidades e também mostrar a nossa. Enquanto estudante, usar esses materiais para pesquisas e trabalhos escolares é fundamental para valorizar e divulgar nossa história e cultura na escola”, relata.
Antônio Pereira de Jesus, conhecido como Seu Piolho, também da comunidade Carrapiché, reforça o papel da tecnologia na preservação das histórias e na conexão entre as comunidades. "Hoje, com o celular e as redes sociais, conseguimos buscar histórias diferentes e até encontrar parentes que sabemos que existem. Para mim, a tecnologia é um ponto de avanço, não só para nós, mas para todo o povo. Cada um tem um conhecimento único, e essa troca de informações emociona e fortalece. Às vezes, uma história que alguém compartilha de outra comunidade pode trazer uma conexão profunda com as nossas raízes e mexer com o nosso sentimento. Isso é o mais importante de verdade", reforça.
O acervo digital da COEQTO também é amplamente utilizado em estudos acadêmicos e científicos, sendo referência em pesquisas sobre a realidade quilombola no Tocantins. Os materiais têm colaborado para ampliar a divulgação dos saberes locais, superando a perspectiva eurocêntrica predominante e fortalecendo a presença de narrativas próprias no meio acadêmico.
A construção desse acervo teve início em 2012, com a parceria do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia. O primeiro trabalho foi realizado em 2013, na Ilha de São Vicente, com o apoio de pesquisadores. Desde então, em colaboração com a APA-TO (Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins), a COEQTO produziu uma série de materiais como mapas, cartografias sociais e planos de gestão territorial.
O acervo reúne 26 arquivos que incluem 22 mapas, cartografias de 15 comunidades, planos de gestão territorial de 8 comunidades, 9 cartilhas, protocolos de consulta e 1 atlas dos territórios quilombolas do Tocantins, totalizando 56 produções. O lançamento do novo site contou com a parceria do ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza), por meio do Projeto Prosas (Promoção de Saberes em Comunicação Estratégica).
Com essa iniciativa, a COEQTO reafirma seu compromisso com a preservação da cultura quilombola, oferecendo às comunidades e à sociedade uma ferramenta que transforma saberes locais em resistência e conhecimento acessível.
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