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Madame Bovary traição, desejo e angústia no século XIX

Flaubert inventou um estilo totalmente novo e moderno, praticando uma escrita que, ao longo dos cinco anos que levou para terminar o livro, literalmente avançou palavra a palavra

09/09/2024 09h34
Por: Helder Peixoto Fonte: Mônica Ornelas*
Foto: Divulgação
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Madame Bovary é um romance escrito por Gustave Flaubert, que resultou num escândalo ao ser publicado em 1857. Reconhecido por autores como Henry James como "o romance perfeito". Trata-se de uma raridade, mesmo em um clássico, um exercício meticuloso de escrita que igualmente desafiava as estruturas literárias e as convenções sociais. Não à toa, a época de lançamento o impacto foi duplo: um sucesso de público e a reação feroz do governo francês, que levou o autor a julgamento sob a acusação de imoralidade. Flaubert inventou um estilo totalmente novo e moderno, praticando uma escrita que, ao longo dos cinco anos que levou para terminar o livro, literalmente avançou palavra a palavra. Cada frase devia refletir o esforço em obtê-la, sendo reescrita e reescrita ad infinitum. Mestre do realismo, o autor documenta a paisagem e o cotidiano da segunda metade do século XIX, ironizando os romances sentimentais e folhetins, gêneros que considerava obsoletos. A história faz um ataque à burguesia, desmoralizando-a com a descrição exuberante de sua banalidade. Em um tempo em que as mulheres eram submissas, Emma Bovary encontra nos tolos romances dos livros o antídoto para o tédio conjugal e inaugura uma galeria de famosas esposas adúlteras atormentadas na literatura. A retórica do amor e as suas alfinetadas, o adultério e o desejo, fizeram com que o autor compusesse esta obre paulatinamente de 10 a 12 h por dia. Dedicou-se a escrever seu primeiro romance q tratou o adultério como uma gota massacrante na visão feminina. Era obcecado nesta escrita, foram cinco anos produzindo este livro. Um a dois parágrafos por dia. Considera a obra de arte perfeita numa vida espartana. Flaubert tinha uma carapaça que não fora desvendada nem por sua amante que era escritora. Por meio de palavras eruditas, usadas para compor cada parte da história, ora ele usava isto por conta da época e ora por gostar de rebuscar os seus textos. Ele usou o seu romance com a escritora para compor madame Bovary. Tinha vida pessoal incomum, escrevia de dentro do personagem, não era um personagem observador, havia no texto riqueza em detalhes como um bom francês adora. Há descrição de paisagens, fatos e ações, dando ideia de realidade e não ficção. Coloca a traição como senso de desejo carnal que mais tarde geraria angústia em tê-los. Delma Heyn descobriu em sua pesquisa. “Relacionar-se com alguém é um desejo humano difícil de conter”. Segundo as mulheres que participaram de tal pesquisa sobre relacionamentos extraconjugais, elas não tinham amantes por querer um caso isolado, ou por estar entediadas ou para variar, elas procuravam uma união que desejavam desesperadamente ou lhes faltava. Para uma heroína é uma espécie de busca. Assim relata Erika Jong que escolheu o mesmo tema em seu livro quando reinventou Madame Bovary trazendo-o para o século XX com o nome original de Fear of Flaying. Neste aludiu à obra como uma busca para encontrar nós mesmas por meio da sexualidade. Ela relata que às vezes a vida matrimonial se restringe numa rotina e numa lista de tarefas; daí falta ao casamento intimidade física e emocional. O marido comporta-se como satisfeito com as coisas como estão, já a mulher não. Viver sem sentir-se valorizada e amada. Essa falta é uma auto exclusão da vida, é como estar morta. Há mais liberdade hoje que no século XIX, narra Flaubert na década de cinquenta. Tanto homens quanto mulheres ainda lutam para encontrar a felicidade. Analogicamente o ontem e o hoje na literatura que se mescla à vida real, a mulher adúltera se comporta em verdadeira lua de mel consigo mesma quando está num romance proibido joga-se por inteira, rasga-se sem medo e sem limite e nem preocupações com o que pode vir a acontecer. Sem generalizar, esquecendo que sou feminista, mas a mulher está além de seu tempo em todos os mecanismos modernos. Valores como caráter permeiam a vida dela. A visão de mãe, mulher, namorada, amante e amiga converte-se a gene da criação. É um ser com desejos insanos que por um tempo não podem ser esquecidos. Isso tudo deve ser vivido na junção entre duas pessoas de quaisquer gêneros. Mulher moderna é mulher vivida. Assim como na Literatura que é pura ficção como na realidade. Elas se mesclam numa parceria perfeita. E a vida real é refletida pelas histórias literárias de outrora ou atuais.

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Mônica Ornelas GalvãoHá 1 mês Palmas TocantinsObrigada, Helder pela publicação do meu artigo. Mais uma vez pude contribuir com o seu blog. Serão vários a partir de agora. Semanalmente enviar-lhe-ei um artigo.
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